E se eu não fosse mãe, como estaria a minha vida agora?
Sua vida e a minha talvez fosssem bem distintas do que são. Podemos até nos permitir viver o luto daquilo que poderia ter sido e não foi. Mas que não deixemos de ver o outro lado.
Sua vida e a minha talvez fosssem bem distintas do que são. Podemos até nos permitir viver o luto daquilo que poderia ter sido e não foi. Mas que não deixemos de ver o outro lado.
Não existe nada mais simples, fácil e indolor do que maternar o filho alheio. Complexo, difícil mesmo e até doloroso é maternar a própria cria.
Dependendo do filtro pelo qual olhamos a maternidade, mesmo em meio ao caos da reconstrução de uma identidade, poderemos encontrar beleza.
Dentro ou fora útero, na superfície ou debaixo d’água, a maternidade e o vínculo construído com meus filhos é algo que ninguém poderá nos roubar.
Puerpério é revolução, é (re)encontro, é reinventar-se. Por mais assustadora que nos pareça essa fase e por mais que ela seja o prenúncio de que a vida jamais será igual, que ela seja diferente não significa que seja uma pior versão do que foi.
Toda mãe já chorou baixinho no escuro. Dormiu com o cabelo sujo ou sem escovar os dentes. Já se perguntou quando teria sua antiga vida de volta.
Esse dar conta implica uma perfeição impossível de alcançar. Dar conta da carreira, dos filhos, da casa, de si mesma, sem desatender nenhum item. Cá entre nós, isso é impossível.
Tem dias que as coisas fogem do controle, que nada sai no horário, que o filho chega atrasado na escola, que todo nosso esforço em manter a casa minimamente habitável é em vão. A gente aproveita que as crianças resolveram correr no quintal para chorar enquanto corta a cebola do refogado. Tem dias que dá vontade de fugir, de hibernar até a próxima estação, de evaporar no ar.
O pedaço que falta pode ser físico, ou mesmo invisível aos olhos. Pode ser fruto de um acidente inesperado, ou de um duro diagnóstico. Pode ter origem circunstancial, ou genética. Pode ser resultado de uma meta não alcançada, ou de uma decisão tomada de forma equivocada pela razão que seja. Talvez possa ser substituído, ou talvez seja uma ausência com a qual teremos de lidar pelo resto das nossas vidas.
A chegada de um bebê ao seio de uma família provoca um grande colapso. A noção do passar das horas, de dia e noite, de descanso, de ócio, deixam de existir por um tempo. Tudo se concentra em atender as necessidades urgentes do recém-nascido: alimento, higiene, sono, choro. A vida de repente se resume a isso. E temos que lutar contra um forte sentimento de inutilidade. Mas de onde ele vem?