Puerpério. Quantas de nós subimos ao palco da vida para encenar a maternidade sem jamais haver escutado esta palavra. Ou talvez, sim, mas a versão limitada do seu conceito, resumido a 40 dias, que coincidem com o término de um sangramento e órgãos que voltam ao seu lugar e tamanho originais. Nos sentimos culpadas quando ouvimos de médicos, familiares e da sociedade em geral que o resguardo chegou ao fim e já podemos retomar a vida normal, sendo que a sensação é de que o normal já nunca será como antes.
As cortinas se fecham, a platéia se vai, as luzes se apagam e ficamos completamente sós, nos sentindo estranhas, num corpo que não reconhecemos, com um bebê que chora nos braços. Aquele coraçãozinho que escutávamos com ternura bater lá dentro a cada ultrassonografia, agora bate aqui fora demandando total atenção. Nossa rotina e existência de repente se resumem a cuidar de um ser indefeso e completamente dependente. Deixamos de ser protagonistas para nos tornarmos meras coadjuvantes.
Precisamos de tempo para nos identificarmos com nosso novo papel. Para internalizar as mudanças e chegar a ver a beleza do novo em meio ao caos. Para fluir em ocitocina, descobrir o amor, construir o vínculo. Precisamos ensaiar. Cada dia um novo capítulo. Com erros e acertos, sem ter todas as falas de memória, sem ao menos ter lido o roteiro até o final.
Puerpério é revolução, é (re)encontro, é reinventar-se. Por mais assustadora que nos pareça essa fase e por mais que ela seja o prenúncio de que a vida jamais será igual, que ela seja diferente não significa que seja uma pior versão do que foi. E, acredite, não ter todas as respostas e não saber como tudo termina te dá a liberdade de escrever a sua própria história. Não tenha medo de mergulhar em águas profundas, de enfrentar-se ao desconhecido, de ousar viver a vida e a maternidade como ela realmente é, uma obra prima, única e inigualável.
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Texto originalmente publicado na minha conta do Instagram em 26 de julho de 2019.