O sono é um processo evolutivo que vai se adequando às necessidades do ser humano ao longo do seu desenvolvimento. Tais necessidades são distintas em cada fase da sua vida. Sendo assim, o sono infantil tem suas próprias peculiaridades.
Muitos dos problemas que como pais enfrentamos, segundo adverte o Dr. James McKenna, diretor do Mother-Baby Behavioral Sleep Laboratory da Universidade de Notre Dame, é que as recomendações ocidentais sobre o melhor modo de cuidar de bebês na realidade não tem nada a ver com bebês. Isso inclui as expectativas e recomendações em relação ao sono infantil. Talvez tenham tudo a ver com ideologias culturais e valores sociais ocidentais recentes, que refletem com mais precisão o que queremos que os bebês se tornem. Mas não com o que eles realmente são e o que realmente precisam¹.
Analisando o sono infantil desde a perspectiva do bebê mamífero
É interessante notar que importantes processos e aquisições do sono ocorrem durante o período de amamentação que até recentemente respeitava a grande maioria das culturas ao longo da história. Ou seja, ao redor dos dois aos três anos. E que a evolução do sono infantil culmina dentro do período estimado² de duração normal da amamentação na espécie humana³. Quer dizer, próximo dos cinco aos seis anos. Momento em que se estima que o sono da criança se equipara ao do adulto.
A nossa cultura, incluindo muitos profissionais da saúde, implicam com a amamentação e a cama compartilhada. E atormentam os pais com as ditas associações negativas do sono e toda a sorte de problemas futuros hipotéticos. No entanto, o que podemos perceber é que a amamentação e o sono acompanhado continuam sendo a maneira mais fisiológica e respeitosa de apoiar os pequenos no seu processo de evolução natural do sono.
Esta tem sido minha experiência com os gêmeos, no auge dos seus quatro anos. É maravilhoso vê-los alcançar a consolidação do padrão de sono sem intervenções externas, treinamento ou condicionamento comportamental de qualquer tipo. Mesmo ainda mamando para dormir e tendo compartilhando cama desde o nascimento.
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Texto originalmente publicado no meu perfil do Instagram em 10 de setembro de 2019.
[Os gêmeos desmamaram definitivamente em janeiro deste ano aos 4 anos e 7 meses de forma natural e com o sono já consolidado. Pouco antes disso havíamos desfeito o formato de cama compartilhada como regra. A quarentena em virtude da pandemia pelo COVID-19 trouxe de volta os despertares noturnos e a prática da cama compartilhada de forma intermitente.]
¹James McKenna em entrevista a Arianna Huffington para o The Huffington Post. Leia a entrevista completa em português aqui.
² Com base em estudos antropológicos e etológicos, bem como diferentes testemunhos etnográficos, históricos e culturais, se estima que a idade do desmame natural na espécie humana do ponto de vista biológico seria entre os 2,5 e 7 anos.
³DETTWYLER, KATHERINE A PhD When to Wean: Biological Versus Cultural Perspectives, Clinical Obstetrics and Gynecology: September 2004 – Volume 47 – Issue 3 – p 712-723 doi: 10.1097/01.grf.0000137217.97573.01
Maravilhoso! Seguindo nossos extintos, tudo flui muito melhor!
Sim!!! 🙌🏼