Muito do excesso de diagnósticos incorretos de alergia em bebês se deve à falta de conhecimento dos pais e profissionais sobre o comportamento normal do ser humano no início da vida extrauterina, além do mau manejo clínico da amamentação por parte destes últimos. A seguir algumas orientações importantes da nutricionista Carol Sartori a partir de situações vivenciadas por muitas famílias nos consultórios médicos.
Você se identifica com algum desses casos?
Veja as seguintes situações:
- O bebê toma a vacina contra rotavírus, apresenta rajas de sangue nas fezes e/ou diarreia e antes que alguém explique que é um efeito que pode derivar da vacina e não representa risco, a mãe é orientada restringir leite e soja da dieta.
- O bebê sem nenhum outro sintoma tem um episódio de raja de sangue nas fezes que pode ser pelo rompimento de um vasinho e a mãe é orientada restringir leite e soja da dieta.
- O bebê não ganha peso como esperado e antes de investigar refluxo, baixa produção de leite, síndromes ou simplesmente antes de avaliar se aquela criança é uma das que cresce saudável ganhando menos peso, a mãe é orientada restringir leite e soja da dieta.
- O bebê chora porque é um bebê humano e a mãe é orientada restringir leite e soja da dieta.
- O bebê tem cólicas fisiológicas e antes que alguém explique que isso é normal e passa geralmente até os 4 meses, a mãe é orientada restringir leite, soja e outros alimentos da dieta.
- O bebê tem uma dermatite porque a pele é supersensível e a mãe é orientada restringir leite e soja da dieta.
Alergia: Sim ou Não?
Condutas esdrúxulas? Sim, temos. NENHUMA das situações que descrevi é motivo para restrições alimentares.
O problema é que quase ninguém explica que alergia em bebês muito novos, especialmente aqueles em aleitamento materno exclusivo, é um evento raro e normalmente não dá as caras como um sintoma isolado. Sangue nas fezes é o sintoma mais comum de alergia, mas além dele também é comum ocorrer refluxo que não responde aos tratamentos convencionais, manifestações cutâneas, muco nas fezes, diarreia, baixo ganho de peso, vômitos em jato e muito volume cerca de 1 a 4h SEMPRE após o consumo do alimento suspeito, distensão abdominal, assaduras graves que não melhoram com troca de marca de fralda ou pomadas, perda de apetite, etc. Além disso, os sintomas normalmente tendem a piorar se o alimento suspeito não for suspenso!
Não faça restrições desnecessárias. Elas causam um impacto psicológico e nutricional muito importante para serem feitas sem algo que as justifique de fato.
Intolerância à lactose em bebês… Será?
🔹O leite materno é riquíssimo em lactose, e nada que a mãe fizer vai mudar isso. É um componente inalterável do leite materno. É o carboidrato do leite materno.
🔹Sendo a lactose um componente do leite materno e sendo a natureza sábia, os bebês nascem muito bem equipados com enzima lactase para digerir essa lactose e obterem energia para seu crescimento e desenvolvimento.
🔹Bebês prematuros podem ter uma intolerância à lactose temporária que costuma resolver poucas semanas após o nascimento e não costuma causar sintomas graves.
🔹Existe uma condição genética MUITO RARA que manifesta-se logo após o nascimento em que os bebês não produzem a lactase e o consumo de lactose pode causar danos graves. Nesses casos o aleitamento materno normalmente é interrompido ou limitado e a criança desde os primeiros dias de vida precisará de uma fórmula específica. Mas veja: É MUITO RARO E VAI SER DESCOBERTA NOS PRIMEIROS DIAS DE VIDA. Exames genéticos confirmarão o diagnóstico.
🔹A intolerância à lactose não congênita (essa que muita gente tem ou vai ter em algum momento da vida) costuma manifestar-se mais após os 10 anos de idade, mas pode aparecer antes, embora seja BASTANTE INCOMUM ANTES DOS 5 ANOS.
🔹 Gastroenterites, uso de antibióticos e doenças inflamatórias intestinais em atividade podem causar uma intolerância à lactose temporária, por isso algumas pessoas relatam que passam mal após consumir leite quando estão com diarreia.
🔹E mais uma vez um diagnóstico errado nos bebês leva ao desmame precoce, à restrição desnecessária e à prescrição de fórmula SEM NECESSIDADE!
🔹Intolerante à lactose não precisa deixar de consumir leite e derivados. Só precisa evitar a lactose ou consumir aquilo que sabe que tolera.
Por Carol Sartori, mãe da Helena, nutricionista e defensora da nutrição baseada em evidências científicas, sem modismo nem terrorismo.
Você pode acompanhar o seu trabalho no Instagram @sartori.carol
Textos originalmente publicados em sua conta do Instagram e gentilmente cedidos pela autora para serem reunidos e divulgados neste espaço.