Os saltos de desenvolvimento no segundo ano de vida são um grande desafio para a manutenção da amamentação no tempo. Como falei no post anterior, a sociedade no geral não vê necessidade de um bebê que \”já come\” seguir no peito. E não raro escutamos da boca de profissionais comentários do tipo: \”seu leite já não sustenta\” ou \”seu bebê não precisa mais mamar durante a noite\”.
Acontece que esses períodos turbulentos na vida da família de um bebê que está adquirindo novas habilidades (disso se trata os saltos de desenvolvimento) se forem mal interpretados, podem colocar em risco a amamentação. Por quê? Porque o processo pode gerar no bebê certa ansiedade e angústia e a busca pela presença da mãe, seu porto seguro. Lembre-se que a angústia da separação começa entre os 6 e 8 meses e vai em menor ou maior intensidade até os 3 anos. Também podem acontecer alterações no padrão de sono e alimentação. Na análise simplista da nossa sociedade, tudo cai na conta da amamentação. Neste caso, a culpa pelo \”mau comportamento\” do bebê.
Essa fase é desafiadora pois as mudanças são mais notórias. O bebê ganha autonomia e avança não só do ponto de vista motor, mas também cognitivo, social e na linguagem. Precisamos lidar com situações mais complexas como birras, recusa de seguir a rotina, maior demanda do peito e noites péssimas.
Peito: vilão ou aliado nos períodos de saltos?
Se não estivermos preparadas poderemos ser levadas a crer que estamos fazendo errado em amamentar, atender as demandas do bebê e tratar de acolher o comportamento difícil. E pelo contrário, é justamente isso o que ele precisa e espera de nós, e é por isso que ele nos busca em primeiro lugar. Somos sua fonte de ocitocina para a regulação emocional.
Agora, trazendo para minha experiência pessoal. Os saltos desse período e a fase dos dois anos foram muito insanos por aqui. Não é nada fácil ter que lidar com dois bebês simultaneamente e sem rede de apoio. Eu gritei, chorei em posição fetal, me escondi debaixo dos cobertores e achei que ia enlouquecer. Mas, aguentei firme, um dia de cada vez. E aqui estou pra contar que essas fases passam. Tenho plena consciência de que isso não torna o momento mais fácil. Porém, isso nos dá a esperança de que não precisaremos viver nesta alta demanda para sempre. E não esqueçam: peito é aliado e vale a pena toda a empatia que pudermos dispensar aos pequenos nessa fase.
Continua no próximo post: Porque é tão difícil continuar amamentando – Comportamento Infantil
Leia também o post anterior: Porque é tão difícil continuar amamentando – Cultura do Desmame
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Por Gabrielle Gimenez @gabicbs
[Na foto, o Matias com 1 ano e 9 meses. Período bastante demandante e desafiador por aqui.]
Texto publicado originalmente na minha conta do Instagram em 10 de outubro de 2018 e revisado nesta edição.