Entenda de onde surgiram os termos leite anterior e leite posterior e porque não devemos nos preocupar por isso.
Bebês que são amamentados recebem uma quantidade crescente de gordura no leite à medida que a mamada progride. Se fosse permitido ao bebê um acesso contínuo ao seio, o conteúdo de gordura permaneceria o mesmo durante todo o período. No entanto, uma vez que o acesso contínuo ao seio é irreal, normalmente alimentamos nossos bebês com mamadas individuais separadas ao longo do tempo. Obviamente, melhor para nossa sanidade mental. Isso resulta em leite com baixo teor de gordura no início da mamada e maior teor de gordura no final.
A quantidade de gordura no leite varia de acordo com a quantidade de leite no peito. Um peito cheio tem menos gordura. E um peito menos cheio tem um maior teor de gordura. Isso tem muito a ver com a resistência da gordura em ser removida do seio.
O leite anterior e posterior visto no microscópio
Esta imagem mostra o tecido mamário lactante, ampliado 160 vezes. As células de gordura estão tingidas com tetróxido de ósmio, o que as torna pretas. Você pode ver a aparência arredondada dos alvéolos e o centro branco dos alvéolos, que é o leite. As células adiposas se prendem às paredes dos alvéolos. É preciso mais energia para movê-las daquele local quando os alvéolos estão cheios de leite. Em comparação com a energia necessária quando há menos leite sendo produzido. Quando os alvéolos não estão tão cheios de leite, a gordura é mais fácil de remover.
Então, quando nós esperamos por horas entre as mamadas, os alvéolos primeiro liberam leite com um teor de gordura menor, e quando o leite é removido, mais gordura entra. Temos um volume de leite maior pela manhã, que é menor em gordura. E menor volume de leite à noite, que, portanto, tem mais gordura. Isso muitas vezes leva a discussões sobre “leite anterior” e “leite posterior” – termos inúteis que são usados para descrever leite com baixo teor de gordura e leite com alto teor de gordura, respectivamente.
O conteúdo de gordura do leite não é tudo ou nada
O uso desses termos faz parecer que existem dois tipos de leite (baixo teor de gordura e alto teor de gordura). E como se houvesse um ponto em que passamos de um tipo para outro. No entanto, nenhuma destas suposições é verdadeira.
Se você olhar para a foto, há alguns alvéolos cheios de leite sem gordura no centro e outros que estão completamente em colapso e cheios de gordura. A imagem demonstra muito bem que o conteúdo de gordura não é tudo ou nada. O aumento de gordura é gradual ao longo da alimentação. \”Leite anterior\” e \”leite posterior\” são termos que levam à confusão sobre a concentração de lactose também. (Mas isso é informação para outro post*.)
Nota da Tradutora:
Uma outra maneira de entender o fenômeno de liberação do “leite posterior” ou com maior teor de gordura é pela ação da ocitocina. Conforme esclarece o pediatra, IBCLC e professor da UFRJ Marcus Renato de Carvalho, o leite posterior não tem um tempo certo para aparecer e depende muito mais de estímulos psíquicos do que mecânicos. Ele explica:“O leite posterior é mais gorduroso, porque é fruto da atuação da ocitocina que “arrebenta” as células produtoras de leite e não depende tanto da sucção do lactente como a prolactina. A liberação da ocitocina depende mais da vontade/desejo/emoções maternas. Às vezes, pensar no bebê, ouvi-lo chorar, se lembrar do seu rostinho por exemplo, podem fazer o leite descer. Em conclusão, o leite posterior pode vir antes do ‘anterior'”.
Desta forma, as mamadas frequentes associadas aos sentimentos positivos da mãe que amamenta, em relação ao seu bebê e à amamentação, criarão o contexto propício para que o bebê receba o leite com maior teor de gordura, o que impacta na sua saciedade e ganho de peso. Daí a importância de apoiar e trabalhar a autoconfiança materna. Assim, a ocitocina, e consequentemente a amamentação, podem fluir sem empecilhos. (Você pode ler mais sobre este assunto aqui.)
*[Leia mais em: Fezes Esverdeadas Significam Baixa Ingestão de Leite Posterior?]
Texto da Dra. Jenny Peelen Thomas para sua página no Facebook Dr. Jen 4 kids – Breastfeeding Medicine.
Para ler o texto da publicação original em inlgês clique aqui.
Tradução e nota de Gabrielle Gimenez @gabicbs
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