A evolução do sono dos bebês

Os bebês já nascem sabendo dormir, mas o sono vai evoluindo, adaptando-se às necessidades do ser humano em cada fase da sua vida.

Saber quando seu bebê vai dormir a noite toda é uma das preocupações da maioria dos novos pais. O cansaço e as dificuldades de adaptação ao novo ritmo de vida fazem com que eles percebam o despertar de seu filho como um problema de sono quando, na realidade, não é. Tanto crianças quanto adultos têm despertares noturnos. A única diferença é que sabemos como voltar a dormir, eles não. Mas algum dia eles conseguirão.

Um recém-nascido não é muito diferente do pequeno bebê intrauterino que era alguns segundos antes. Portanto, precisa do mesmo cuidado. Ele precisa receber comida quando está com fome, já que no útero sua dieta era automática e muito contato físico, já que no útero materno ele era permanentemente abraçado. Mas quase nada mais. Roupas, fraldas… são coisas que o bebê não vai reclamar se for envolvido nos braços de seus pais.

E dormir? Como ensinaremos recém-nascidos a dormir? Bem, de jeito nenhum, porque eles já nascem sabendo dormir. Esta é uma necessidade vital básica sem a qual não sobreviveríamos por muito tempo, por isso a natureza garante que tenhamos essa faculdade antes mesmo de nascermos. Mas nem sempre é a mesma, pois o sono está evoluindo, adaptando-se às necessidades do ser humano em cada momento.

OS PRIMEIROS TRÊS MESES

Os bebês já dormem no útero. Está provado que após 6 meses eles têm uma fase ativa do sono e depois dos 7 eles têm um sono mais tranquilo. Nestas duas fases eles ocupam a maior parte do seu tempo.

Quando uma criança nasce, seu sono é quase o mesmo que o que ela tinha no útero de sua mãe. Portanto, se as condições do útero da mãe forem reproduzidas, ela dormirá o quanto precisar. Não esqueça que as horas exigidas por cada bebê são diferentes, e elas variam entre 12 e 16 horas nos primeiros dias.

Mas sabemos como é o sono de um bebê de alguns meses?

🔹Ultradiano. Os horários dos bebês são caóticos. Até que sejam mais velhos não adquirem o ritmo circadiano, que possibilita diferenciar o dia da noite. Eles também precisam dormir mais horas. À medida que crescem, elas serão reduzidas até atingirem as oito horas em média que  precisam os adultos.

🔹Polisequencial. Isso significa que uma criança dorme várias vezes ao longo do dia. Os adultos geralmente dormem de uma só vez um longo período (à noite), mas bebês com menos de três meses de idade dormem várias vezes ao longo do dia.

🔹Bifásico. As fases do sono também são diferentes, pois os adultos têm cinco fases e recém-nascidos, apenas duas. Nossas cinco fases vão do despertar (vigília), passando pela fase I de dormência, fase II do sono leve, até as fases III e IV do sono profundo. Nós também temos uma fase final, REM. Os bebês só têm fase REM e uma fase de sono leve. O resto é adquirido com o passar do tempo.

🔹Ter um sono REM de 80%. Essa fase, aquela em que sonhamos, tem como missão reposicionar a aprendizagem feita durante o dia e administrar as emoções em nosso cérebro. É por isso que os recém-nascidos têm 80% do sono REM, já que dificilmente se cansam fisicamente e não precisam de fases de sono profundo. Em vez disso, eles aprendem muitas coisas e precisam de mais sono REM. À medida que crescem e fazem mais exercício físico, essa proporção é modificada.

🔹Os ciclos são mais curtos. Os dos bebês duram cerca de 45 minutos, enquanto os dos adultos podem durar até 90 minutos.

Para que um lactente durma adequadamente, é necessário garantir que ele se sinta seguro e cuidado permanentemente. Uma criança carinhosamente cuidada e alimentada em livre demanda dormirá sempre que precisar, mesmo em momentos e períodos diferentes de outro bebê da mesma idade.

DE 4 A 7 MESES

O bebê está crescendo e amadurecendo, e seu sono também. Três são as palavras que definem o seu descanso neste estágio:

🔹Circadiano. Ou seja, o bebê já é capaz de diferenciar o dia da noite. Embora cada criança siga o seu próprio ritmo, e portanto os números sejam variáveis, a maioria dos bebês de sete meses costuma tirar alguns cochilos durante o dia e dormir à noite por um período de tempo mais longo ou mais curto. Além disso, o número total de horas de descanso é reduzido para entre 10 e 15 horas.

🔹Sequencial. A partir deste momento, ele adquiriu quase todas as fases do sono do adulto, ele pode uni-las mais facilmente e, portanto, desfrutar de períodos de sono de mais de um ciclo.

🔹Instável. O sono entre quatro e sete meses é muito instável porque surgem as fases que faltam e o bebê precisa se adaptar a elas. É um período de transição em que os despertares são muito frequentes, às vezes até mais do que nos primeiros meses. Por quê? Bem, porque eles estão praticando! Agora há mais fases e mais mudanças, e as crianças precisam ensaiar para aprender.

Este período geralmente é de especial dificuldade para os pais, pois o sono de seu filho é muito leve, com frequentes despertares. Felizmente, há sempre algo que ajuda a criança a melhor conciliar o sono (estar perto de adultos, uma música, um ursinho, silêncio, barulho…). Este é um estágio transitório e o que deve ser tentado é, simplesmente, que a criança durma o melhor possível.

DE 8 A 24 MESES

Nesta fase, o sono de muitas crianças é basicamente:

🔹Temido. Imagine que um recém-nascido durma por duas horas. Quando ele acordar, ele vai pensar que ele está no mesmo momento que duas horas antes, já que ele não tem ideia da passagem do tempo ou do que aconteceu. Mas uma criança de 8 meses de idade o faz. Ela começa a perceber que há um período de tempo – quando ela vai dormir – quando ela se separa de seus pais e também não sabe o que acontece nesse meio tempo. É por isso que ela tenta adiar o momento de ir para a cama o máximo possível. Nessas idades é muito comum que algumas crianças pequenas adormeçam enquanto fazem atividades que momentaneamente escondem a ideia de que vão se separar de seus pais: brincando, andando, assistindo TV…

Para que eles aprendam a regular essa ansiedade, devemos acalmá-los antes que eles durmam. Também é importante deixar claro para eles que não devem temer esse momento, porque sempre estaremos com eles se precisarem de nós.

🔹Inquieto. Ficou provado que durante o sono, especialmente na fase REM, tudo que preocupa pode ser assimilado, mas também causa pesadelos e outras desordens que, curiosamente, tendem a aparecer nessas idades. A razão é que este é um estágio de muitos aprendizados para a criança. Em algum momento durante esses meses ele começa a andar e a investigar um ambiente desconhecido até então, o que lhe causa uma grande ansiedade. O início da alimentação complementar e, posteriormente, a retirada da fralda são motivos frequentes de ansiedade na infância e de repreensão de muitos pais a seus filhos.

Você está surpreso que seu sono seja inquieto? O mesmo acontece com os adultos, que quando estamos nervosos dormimos muito pior. Por todas essas razões, o sono das crianças é agitado e os despertares noturnos ainda estão presentes na maioria.

DE 3 A 5 ANOS

Quando atingem essa idade, as crianças têm mais horas de atividade diurna, o que determina que o tempo de sono é reduzido – esse é o momento em que os cochilos são normalmente eliminados espontaneamente – e há apenas um período de repouso noturno de cerca de 10-12 horas. Neste momento pode-se afirmar que o sono infantil já é muito parecido com o dos adultos.

Você notou? Em cada período da nossa vida, o sono é perfeitamente adaptado às nossas necessidades. Isso faz com que o descanso de um adulto seja diferente do de um recém-nascido, e também o de um idoso que não tem quase nenhum sono e, em vez disso, tende a ter mais períodos de sono leve e precisa dormir cochilos durante o dia.

O sono é um processo evolutivo. Nascemos sabendo como dormir e estamos desenvolvendo e adaptando essa atividade de acordo com a idade. É simplesmente uma questão de saber como o sono da criança está a cada momento para ajudá-la a evoluir corretamente.

[Leia mais em: Seu Bebê Já Dorme a Noite Toda? e Os Despertares Noturnos do Bebê São Por Culpa do Peito?]

[Para se aprofundar no tema assista a nossa live ou ouça o nosso podcast sobre Amamentação e Sono Infantil.]


Artigo¹ de Rosa Jové, psicóloga infantil e autora do livro Dormir sin Lágrimas.

Tradução* de Gabrielle Gimenez @gabicbs

¹ Editado pela revista El mundo de tu bebé, e publicado no fórum Dormir sin Llorar por Trece.

* Publicada originalmente na minha conta do Facebook em 21 de julho de 2018.

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