O choro do bebê e o desmame precoce

O choro do bebê e o desmame precoce

Por incrível que pareça o choro do bebê é uma das grandes causas de desmame precoce em nossos dias.

Por que?

Porque temos perdido a noção do que é o comportamento normal e esperado para a nossa espécie. Não estamos preparados para lidar com a dependência extrema do ser humano ao nascer. Esquecemos que o choro é antes de tudo uma forma de comunicação. No caso do bebê, a única maneira que ele tem para expressar uma necessidade real, seja ela física ou emocional.

O que não fazer diante do choro

O choro não deve ser calado forçadamente com uma chupeta. Acolher o bebê que chora no colo é muito mais importante do que fazê-lo parar de chorar com uma chupeta fora dos braços do seu cuidador.

O choro não deve ser sempre interpretado como fome. Portanto, se o bebê chora depois que sai do peito, não significa que precisa de uma mamadeira de fórmula. A principal necessidade humana é de contato. Nunca é demais lembrar: Não existe leite fraco.

O choro não deve ser motivo para achar que o bebê tem algum \”problema\”, que veio com defeito de fábrica, que ele \”precisa aprender\” alguma coisa.

O choro não é e nunca será manipulação. Bebês e crianças pequenas não tem maturidade cerebral para isso. Trata-se de uma interpretação equivocada do adulto baseado numa premissa errônea. O choro expressa uma necessidade a ser atendida.

Abro um pequeno parêntese para enfatizar: BEBÊS CHORAM, E CHORAM MUITO! Quanto antes a recém-mãe e os adultos do seu entorno imediato entenderem e aceitarem isso, melhor será para todos.

Como podemos acolher o choro

O choro deve ser inicialmente acolhido pela mãe utilizando o colo e o peito. Especialmente em recém-nascidos, isso será a solução em 90% dos casos. Mesmo que o motivo do choro não seja fome física, o peito e o colo satisfarão a fome neural ou necessidade de contato e proteção.

O choro como forma de comunicação será com o tempo interpretado segundo as suas diferentes causas. Com empatia e paciência a gente começa a entender melhor as motivações do choro e a melhor maneira de atendê-lo, mesmo que seja na base da tentativa-erro.

O choro em bebês já alimentados e sequinhos pode ser acolhido pelos braços do papai ou de outro responsável presente. Acrescento uma super dica: sling é vida!

Prevenindo o desmame precoce

Um alerta do Ministério da Saúde que adoro citar:

\”As mães, com frequência, o interpretam [o choro do bebê] como fome ou cólicas. Elas devem ser esclarecidas que existem muitas razões para o choro, incluindo adaptação à vida extrauterina e tensão no ambiente. Na maioria das vezes, os bebês se acalmam se aconchegados ou se colocados no peito, o que reforça a sua necessidade de se sentirem seguros e protegidos. As mães que ficam tensas, frustradas e ansiosas com o choro dos bebês tendem a transmitir esses sentimentos a eles, causando mais choro, podendo instalar-se um ciclo vicioso\”.

(Fonte: Cadernos de Atenção Básica/ Saúde da Criança – Aleitamento Materno e Alimentação Complementar/ N. 23 – Ministério da Saúde, 2015.)

Muitas vezes essa ideia é reforçada pela pressão sofrida pela mãe dos que estão ao seu redor. Recomendo às gestantes estudarem sobre exterogestação, picos de crescimento e saltos de desenvolvimento e fisiologia da amamentação. E também transmitir essa informação aos que formarão sua rede de apoio. A demanda de um recém-nascido é alta e desgastante. Mas quando sabemos o que esperar, podemos encará-la com mais leveza, sabendo que é importantíssima e exigente, mas também passageira.

Mais acolhimento e menos interferências externas. Bebês choram e precisam de peito, colo e contato pele a pele. E não de chupeta, mamadeira e cadeirinhas vibratórias. Entender isso pode ser fundamental para prevenir um desmame precoce.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

Texto publicado originalmente na minha conta do Facebook em 18 de maio de 2018.

4 thoughts on “O choro do bebê e o desmame precoce”

  1. Avatar
    Georgia Fernandes do Nascimento

    Obrigada, obrigada, obrigada por tirar um peso dos meus ombros. Eu me vi em todas as situações por você relatada. Minha situação se agravou porque meu bebê tinha refluxo e não ganhava peso adequamente. Então todo choro, minha rede de apoio interpretava como fome, que meu leite não estava sustentando e que eu teria que dar fórmula. Mas, pela graça de Deus, eu encontrei uma pediatra anjo do Senhor que me fortaleceu e me empoderou para que eu acreditasse que poderia amamentar meu filho e que ele não era só um número na balança. Hoje, ele tem 6 meses e estamos com livre demanda e leite materno. Para finalizar, eu não sei quantas vezes tive que falar que ele não chora de manha, que peito não é só alimento, que meu leite sustenta e que ele tem o crescimento adequado para o biótipo dele!!

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      Que bom que você encontrou uma profissional comprometida com a amamentação e que puderam superar os obstáculos juntos. São muitas as crenças que atrapalham a amamentação. Informação e apoio efetivo fazem toda a diferença.

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    Adorei ter encontrado seu IG no Instagram e, agora, o seu blog. O texto é bastante esclarecedor, embora vivenciar o choro na prática é assustador é perturbador. Digo isto por ter sido recém-mãe e ter vivenciado o choro da minha bebê. Em alguns momentos fiquei desesperada, mas concordo que o mais sensato seria ter ficado calma.
    Outra coisa, logo na maternidade, o choro da minha bebê foi interpretado como fome e as enfermeiras sugeriam a fórmula. Felizmente, não desisti do peito e hj ela já tem 6 meses e ainda está no peito. Gratidão pela leitura tão linda!! ❤️😍

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      Sim, num primeiro momento, quando tudo é novo para nós, mães de primeira viagem, o choro do bebê pode ser realmente assustador. Ainda mais quando falta orientação correta dos profissionais e apoio das pessoas mais próximas. No entanto, estar bem informada nos ajudará a recuperar o equilíbrio para poder seguir em frente com confiança para enfrentar os desafios de cada fase. Um abraço.

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