A recomendação dos melhores especialistas é de que a amamentação deve atender à demanda do bebê sempre que ele solicitar. É o que chamamos livre demanda ou alimentação guiada pelo bebê. Para que ela aconteça o bebê não deve fazer uso de bicos artificiais, como mamadeira e chupeta. Também não se deve controlar o tempo de duração das mamadas ou o intervalo entre elas. Mas então alguém pode se perguntar: a livre demanda precisa durar para sempre? Entenda como funciona a dinâmica da lactação e em que momento os combinados podem ser uma opção.
Livre oferta no estabelecimento da amamentação
No início, especialmente no caso de bebês prematuros ou baixo peso, que têm mais tendência à sonolência ou bebês com fator de risco para episódios de hipoglicemia, faz parte do processo da livre demanda a livre oferta do peito por parte da mãe.
Sempre é bom enfatizar que choro é sinal tardio de fome e não devemos esperar o bebê estar chorando para só então colocá-lo no peito. (Leia também: Choro é um Sinal Tardio de Fome.) A livre demanda é a forma mais adequada de garantir uma boa produção de leite para a mãe. Para o bebê, a maneira de aprender sobre autorregulação e saciedade.
Livre demanda e introdução alimentar
A partir dos 6 meses, a maioria dos bebês (alguns um pouco depois) começará a introdução alimentar. A livre demanda não deve ser interrompida. Embora haja uma mudança na rotina com a inclusão dos sólidos, o leite materno continua sendo o principal alimento durante o primeiro ano de vida da criança. Ele não atrapalha a absorção de nutrientes e até pode favorecer a aceitação de novos alimentos. O bebê pode mamar antes, durante e depois das refeições sem problema nenhum. (Leia também: Introdução Alimentar: O Que Você Precisa Saber.)
Livre demanda e volta ao trabalho
Mães que voltam ao trabalho neste período, ou mesmo antes, e decidem manter a oferta exclusiva do seu próprio leite, são beneficiadas por uma rotina de extração ao longo do dia que ajuda a manter a produção sempre adequada. A livre demanda deixa de existir, ficando limitada ao tempo em que estiverem juntas com seus bebês. No entanto, durante os períodos de separação é interessante que o cuidador seja orientado a oferecer o leite levando em conta os sinais de fome e saciedade do bebê. É o que chamamos alimentação responsiva. Por outro lado, a amamentação noturna funcionará como forma de compensação da ausência durante o dia. E não só do leite materno, mas especialmente do contato físico, proximidade e toque materno. A cama compartilhada é uma grande aliada nesta fase (Leia também: 9 Razões para Manter a Amamentação Noturna.)
A demanda após o primeiro ano de vida
Após o primeiro ano, a livre demanda já não se faz indispensável do ponto de vista nutricional. A essa altura o bebê já tem a função da mastigação melhor estabelecida e é capaz de alimentar-se bem. Isso não significa que a livre demanda precisa ser abolida. As mães que puderem e quiserem podem mantê-la sem nenhum tipo de prejuízo. O peito continuará sendo um grande aliado em períodos de saltos, e os do segundo ano de vida são bastante desafiadores. Também o serão nos períodos de nascimento de dentes, de inapetência por doença, mudanças na rotina, vínculo, entre outros. (Leia também: Porque é tão Difícil Continuar Amamentando – Cultura do Desmame.)
Combinados e limitação da demanda
Na medida em que a criança vai crescendo e existe a possibilidade de diálogo entre as partes, os combinados podem ser incluídos na rotina. Diante da solicitação do peito, a mãe pode sugerir uma troca por água, uma fruta, colo ou uma brincadeira. Com crianças mais velhas é possível combinar a espera e que a mamada se dê num momento posterior. Ou estabelecer um único lugar para que a amamentação aconteça, que passa a ser o cantinho do tetê ou mamá.
Em caso de recusa por parte da criança, não se deve negar o peito. Especialmente se não há compreensão ou capacidade do bebê em entender o significado da espera. Mas mesmo que ela aceite, é interessante dar algo que a criança possa fazer durante o tempo da espera. Cumprir a nossa palavra, ainda que num momento posterior ela esteja distraída, dará credibilidade para futuros combinados. Para muitas mulheres, a limitação da demanda é o ponto de equilíbrio que encontram para manter a amamentação por mais tempo.
Para pensar
Amamentação é mais do que um meio de obtenção de alimento, é um relacionamento entre duas pessoas. É também alimento para alma, fonte de ocitocina e regulação emocional para a criança. Se por qualquer razão precisamos reduzir a quantidade de mamadas ao longo do dia, o foco não deve ser negar o acesso ao peito. Devemos focar em oferecer à criança outras formas de interação e conexão. Isso pode ser feito de forma intencional (mães que apontam a conduzir um desmame gradual gentil) ou como parte do processo de amadurecimento de ambos na relação, como no desmame guiado pela criança. Quanto maior for o sincronismo entre a mãe o bebê, mais naturalmente se dará esse processo.
[Leia mais em: Você Sabe o Que é Perturbação na Amamentação? e Crenças e Mitos são um Obstáculo ao Fluir Natural da Amamentação.]
[Não deixe de assistir a nossa live ou ouvir o nosso podcast sobre os Desafios da Amamentação Prolongada.]
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Texto publicado originalmente na minha conta do Instagram em 25 de outubro de 2019 e ampliado nesta edição.