Maternidade cansa. Cansa mesmo. O nível de cansaço pode variar dependendo de uma série de fatores. Mas é uma atividade cansativa, enfim. Na verdade, muitas coisas nesta vida cansam: o trabalho, a farra com os amigos, a vida comunitária, a atividade física regular, as noites em claro pela razão que seja. E, no geral, a gente banca porque é um cansaço que traz algum tipo de recompensa. E com a maternidade não deveria ser diferente.
A maternidade cansa, mas pode ser leve. E não existe contradição nisso. O que faz a maternidade ser um peso é tentar se encaixar no padrão alheio. É se impor controles que vêm de fora, do senso comum que não condiz com aquilo que cremos e desejamos. Impossível de alcançar por razões fisiológicas, genéticas, financeiras, etc. É achar que a dedicação e entrega envolvidas são sem sentido ou que não valem a pena. É viver de ilusões, como a busca pelo Santo Graal da maternidade: o bebê “bonzinho” que mama em horários controlados, dorme a noite toda sozinho no berço no seu próprio quarto, não chora, não fica muito tempo no colo, não muda em nada a rotina da casa, que cresce sem fazer birra, ou bagunça, que come de tudo e nunca rejeita a comida. Fardos pesados demais para serem carregados.
Criar filhos demanda muito e às vezes falta tempo para mim. O desafio é buscar o equilíbrio que me permita continuar. Saber escolher bem as batalhas. Ter o olhar correto para perceber as recompensas já alcançadas. Ter a mirada posta a longo prazo no legado que estou deixando nesta terra pela forma em que estou criando os meus filhos.
O ano está chegando ao fim e estou exausta. Época de reuniões na escola, entrega de boletins e relatórios. De tentar colocar as contas em dia e superar os imprevistos (como a máquina de lavar roupas que quebrou outra vez). No entanto, na folha de avaliação, mais importante do que o desempenho em matemática, língua ou ciências, o que me chamou a atenção foi o parágrafo final: “Fernando tem iniciativa para cada atividade proposta. Demonstra confiança e segurança em si mesmo. Se integra com seus companheiros nos jogos e atividades. Parabéns!”.
E eu sei que esta é a minha maior recompensa. Que estamos trilhando o melhor caminho para nós, mesmo que implique andar na contramão da nossa cultura. Respeito, acolhimento, espera. Sem apps de controle do que quer que seja, sem forçar a barra, sem relógio, sem cronômetro, sem tabelas. Estou cansada, mas me sinto leve, satisfeita pelas minhas escolhas.
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Texto originalmente publicado na minha conta do Instagram em 12 de dezembro de 2018.