Por nove meses os levamos dentro do ventre. Um ambiente aquoso, no qual não existe a fome, nem o frio, ou o calor, não existe a solidão. Apenas um abraço contínuo, embalo, movimento, barulhinhos e uma voz distante que sempre reconhecerão e recordarão com carinho.
Aqui fora tudo é tão diferente e assustador. Todas estas sensações antes desconhecidas agora causam dor, choro, desespero. A impressão de cair no vazio, de já não pertencer, de estar só, são assustadoras.
Não é à toa que os bebês vivem (e nós também) esta transição de maneira muito mais suave quanto mais parecida for a vida aqui fora da que levavam dentro do útero. O alimento do seio, o calor do colo, a contenção de um abraço. A cadência do movimento ao ser carregado, a tranquilidade na voz, no olhar, no cheiro da mãe. O toque e o contato constantes que aos poucos vão revelando quem são eles e quem somos nós.
Já estive mais tempo do que posso mensurar contemplando esta imagem. Meus olhos ficaram úmidos meditando na beleza e poesia desta cena. Dentro ou fora útero, na superfície ou debaixo d’água, a maternidade e o vínculo construído com meus filhos é algo que ninguém poderá nos roubar. Que eles cresçam seguros, sabendo que são amados e que jamais perderão seu lugar no meu coração, no meu colo, no meu abraço.
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Fotografia de Liz Corman
[Na imagem, o registro feito pela fotógrafa subaquática @lizcormanphotography da atleta de nado sincronizado @virginie_dedieuoff com seu filho, que também está treinando para se tornar um competidor nesta disciplina. De tirar o fôlego e viver de amor, não é mesmo?]
Texto originalmente publicado na minha conta do Instagram em 16 de agosto de 2019.