Para que serve a livre demanda afinal?

Para que serve a livre demanda afinal?

Livre demanda não é modinha. Nem é coisa que as chatas da amamentação inventaram e repetem apenas para torturar as mães. Livre demanda é um conceito até bastante óbvio do ponto de vista fisiológico.

O que nós fazemos quando temos fome ou sede? Comemos ou tomamos água. Quem estando morrendo de sede, com um copo d’água diante de si, vai olhar para o relógio e dizer: “Ah, ainda não está na hora. Falta 1 hora e meia para que eu possa tomá-lo?” Ou quem estando com fome vai esperar 20 minutos mais, mesmo com a comida quentinha servida no prato, porque não está na hora exata? Bom, nós os adultos, experimentamos certas variações nos horários por questões pessoais, crenças, dietas malucas, ou situações alheias a nossa vontade, mas não sem nos deixar com o humor alterado. Quem nunca ficou triste ou mal humorado de pura fome não satisfeita na hora certa?

A perspectiva do bebê

Mas se levamos esta problemática para realidade do bebê, ela se torna ainda mais delicada. Porque o bebê não escolhe passar fome ou sede. Lembre-se que no útero o bebê é alimentado de forma ininterrupta pelo cordão umbilical, e o conceito de fome e sede são desconhecidos. Então, ele sente uma necessidade, que é nova para ele e não pode satisfazê-la por si só. Depende de sua mãe para supri-la. Ele sinaliza com estado de alerta, movimentos de busca, barulhinhos, chupando as mãozinhas. Se nada acontece, mexe braços, esfrega o rosto, se retorce, resmunga. E se tudo o mais não funciona, abre o berreiro, talvez pensando: “O que mais preciso fazer para que alguém me atenda?”

Acontece que lhe disseram à sua mãe que ela só deveria amamentar de 3 em 3 horas, nunca antes disso, para o bebê não ficar mal acostumado. E mesmo chegando no extremo do choro (que é o sinal mais tardio de fome), ao invés de cair a ficha de que o bebê quer mamar, ela olha para o relógio e diz: “Ainda não tá na hora. Não pode ser fome”. E tenta distraí-lo com um brinquedo, dando chupeta ou fica andando para lá e para cá com um bebê chorando nos braços.

A lógica fisiológica da livre demanda

Estômago pequeno, leite de alta digestibilidade, além da necessidade de sucção e de contato corporal contínuo, fazem com que o bebê precise mamar frequentemente. O peito por algum tempo funcionará como o novo cordão umbilical. Por outro lado, a produção de leite da mãe responde à frequência e eficácia da sucção do bebê. A velocidade, volume e teor de gordura no leite dependem desse esvaziamento constante e efetivo. Percebem como tudo se encaixa?

Livre demanda é uma questão de lógica fisiológica, bom senso e respeito com o bebê. Para não errar precisamos olhar menos para o relógio e mais para quem sabe das suas necessidades: o bebê. Da perspectiva do elo mais frágil, negar a livre demanda é até uma baita sacanagem. Amamente sem medo. Deixe fluir. A gente termina descobrindo que a verdadeira escravidão é a do relógio.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

Texto originalmente publicado no meu perfil do Instagram em 20 de julho de 2020.

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