O desmame é a solução para aliviar o cansaço materno?

O desmame é a solução para o cansaço materno?

A amamentação leva a culpa de muitas coisas na nossa cultura. Mas será que ela é realmente a única ou a principal causa do cansaço materno?

Quando dizemos e repetimos o tempo todo que “a amamentação tem que ser boa para os dois, senão não vale a pena”, na verdade o que estamos querendo dizer é que “a amamentação tem que ser boa pra mãe”. Porque se ficar difícil, se doer, se cansar, ela é livre pra fazer o que bem entender. E se bem isso é verdade, ou seja, no final a decisão de continuar amamentando ou não é sempre da mãe, ela passa por cima um detalhe muito importante: para o bebê a amamentação sempre valerá a pena.

O que sentimos importa, mas nem sempre reflete a realidade

Não que o que a mãe sente não seja importante. Ela não deve negar ou ignorar seus sentimentos. Mas deve saber interpretá-los corretamente. E certamente precisará de ajuda neste processo. Porque quando estamos no olho do furacão é difícil ter esperança no futuro. Mas alguém que já tenha passado pela experiência e sobrevivido talvez possa oferecer um ombro amigo e mostrar para essa mãe o quadro completo. E não apenas a pequena porção que ela consegue ver hoje.

O problema está em que nossa cultura enche a amamentação de estigma. Ela é a grande culpada de todo o cansaço materno. E o desmame, a solução de todos os problemas da mãe. E nem uma coisa nem outra são verdadeiras. Quer você amamente ou não, a maternidade será cansativa. Seu filho vai acordar no meio da noite. Vai querer ficar no colo. Vai fazer birra. Vai adoecer. Vai madrugar nos fins de semana. Vai querer sua atenção focada o tempo todo.

Então respire fundo e pense: o que realmente me cansa? Que coisas na minha rotina poderiam ser diferentes? Estou recebendo apoio suficiente de quem está ao meu redor? Ou estou levando o mundo nas costas sozinha?

Permanece quem escolhe continuar, apesar do cansaço

Às vezes parece que só permanecem na amamentação aquelas que não tiveram problema nenhum. Que vivem num conto de fadas de leite e ternura. Que possuem um séquito de empregados para que ela possa estar plena em seu divã o dia inteiro amamentando e assistindo TV. E não existe nada mais longe da realidade.

Conhecer a importância e os benefícios da amamentação não só do ponto de vista nutricional e imunológico do leite materno, mas da construção do vínculo de apego e demais questões físicas e emocionais envolvidas no ato de amamentar é o que muitas vezes nos ajudará a seguir em frente um dia mais. E assim, um após o outro. Um dia de cada vez. Na certeza de que manter a amamentação não é em vão.

Não se trata de ser mais ou menos nada. Não se trata de se tornar uma mártir da abnegação. Mas pelo bem do elo mais frágil da relação, do ser humano em formação, antes de tomar qualquer decisão vamos pesar tudo na balança. Cobrar apoio a quem corresponda, porque esta não deve ser uma jornada solitária. E o sol sempre voltará a aparecer depois que a tempestade passar.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

[Nesta foto estávamos saindo do salto dos 18 meses. Os gêmeos estavam muito demandantes e eu muito cansada de tudo. Deitei na rede para amamentar sem o mínimo de vontade e quis registrar isso numa foto. E olhando para trás fico feliz de não ter desistido ali (e nas inúmeras outras vezes que essa ideia me passou pela cabeça). Porque embora a situação não tenha virado um mar de rosas depois disso, vejo a importância de estar respeitando o tempo deles e o seu ritmo de desenvolvimento. Vejo como nosso vínculo se fortaleceu e como eles estão dando passos de maturidade e separação do peito. Sinto que estamos próximos do fim de uma jornada.]

Texto publicado originalmente no meu perfil do Instagram em 20 de março de 2019.

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