Após uma publicação minha no Instagram sobre a amamentação em baleias, uma mãe que amamenta um bebê de 16 meses me procurou no direct. Uma pessoa lhe havia dito que a amamentação cumpre um propósito e tem um prazo. Usou justamente o exemplo das baleias, que amamentam até os 12 meses porque então seus filhotes já podem caçar para se alimentar. Obviamente a intenção do comentário era insinuar que esta mãe já havia extrapolado o tempo e que dar o peito a essa altura já “não cumpria um propósito”. Alguém, supostamente pró-amamentação, criticando a amamentação nos humanos.
A amamentação de outros mamíferos
Acho interessante, como mamíferos, que conheçamos o comportamento de outras espécies. Mas daí para sair pegando exemplos aleatórios da natureza para tentar impor regras à amamentação alheia, é outra conversa. No caso em questão o argumento se derruba sozinho porque, diferente da baleia que já pode caçar e valer-se por si mesma, o bebê humano aos 12 meses ainda é totalmente dependente. A maioria sequer anda.
Pensando bem, se é pra pegar exemplos aleatórios da natureza, porque não nos inspiramos no orangutango? Sabia que amamentam até os 8 anos da cria? Ou no canguru? Sabia que amamentam por mais de 1 ano, mesmo quando o filhote já é considerado independente? E que também praticam lactogestação e tandem? Agora, vamos trazer nossas pesquisas para as espécies mais próximas da humana. Dentre os primatas superiores, veremos que gorilas amamentam por 4 a 5 anos. Os chimpanzés por 4,5 a 7 anos.
A amamentação dos humanos
A amamentação tem um propósito e um prazo que é diferente para cada espécie, segundo as necessidades de sobrevivência dos filhotes. Os humanos só alcançam sua autonomia imunológica ao redor dos 6 anos. Momento em que, em média, também alcançam o padrão de sono de um adulto. Esse período é considerado como primeira infância e fase de grandes transformações. Não é, nem de longe, uma loucura pensar sobre os benefícios da amamentação em cada um desses processos. Eles são reais!
Então preciso amamentar meu filho até os 6 anos? O resumo da ópera é: inspire-se na natureza, aprenda com a ciência, mas na hora de pensar sobre o desmame olhe para o seu filho. Não para a data de nascimento, mas para o seu filho como um todo. Ele lhe dirá quando não precise mais do peito. Confie.
[Leia mais em: Amamentação Prolongada Sem Mitos e Um fato importante sobre amamentação prolongada que você precisa saber]
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
[Na foto, estou amamentando os gêmeos Matias e Beatriz no auge dos seus 4 anos e 2 meses. Eles desmamaram naturalmente algum tempo mais tarde aos 4 anos e 7 meses.]
Descrição da imagem: Diálogo que reproduzi a partir de comentários feitos numa publicação sobre amamentação “prolongada” no meu perfil do Instagram. Ainda existem muitos mitos e preconceitos que a envolvem. Estas falas carecem de fundamento e possuem muitos furos nos seus argumentos. A resposta foi extraída de um excelente artigo sobre o tema, entitulado “Desmame total: quando?”, escrito pelo pediatra, professor e consultor internacional em amamentação (IBCLC), Marcus Renato de Carvalho. Clique aqui para lê-lo na íntegra.
Texto originalmente publicado na minha conta do Instagram em 04 de setembro de 2020.