No amor pode haver exaustão

No amor pode haver exaustão

Vivemos em uma época em que as pessoas tratam de encaixar a maternidade dentro de jargões e frases de efeito que atraiam a atenção do público e muitas curtidas. O resultado são discussões polarizadas que não levam a lugar nenhum e deixam de lado o que acontece entre os extremos. Trago um breve relato e um convite à reflexão sobre o amor que não se rende, mesmo diante da exaustão.

Aqui estou eu, exausta. Se dormi 30 minutos esta noite foi muito. Os gêmeos com virose, dessas que causam vômitos. Passei a madrugada em vigília. A máquina de lavar sem trégua, para dar conta de todos os lençóis, cobertores e pijamas sujos. Justo num dia em que varamos a noite trabalhando. Minha cabeça latejava e sequer tive tempo de tomar banho.

O que eu poderia fazer? Dizer: “Ah, vocês já tem quatro anos, não são mais bebês. Já sabem onde está o banheiro e a roupa limpa no armário. Se lavem, se troquem e voltem a dormir porque mamãe precisa descansar, porque se fico exausta não posso ser feliz”. Não faria o menor sentido não é mesmo? O jeito foi assumir meu papel e dar adeus a mais uma noite de sono.

A vida é repleta de imprevistos. Quanto mais vidas estiverem sob o nosso cuidado, mais imprevisibilidade haverá. E mais exaustão. E a necessidade de abrir mão de determinadas coisas por um certo tempo. A vida é repleta de privações: de sono, de saúde, de dinheiro, de comodidades, de melhores oportunidades de trabalho. Não se trata de um discurso fatalista, mas honesto.

Não podemos eliminar a exaustão a qualquer custo

Minha intenção não é romantizar a exaustão materna, nem criar um padrão do que seria ou não aceitável. Por outro lado, penso se passar a vida tentando evadir o cansaço a todo custo, pretendendo não ter que abrir mão de conforto algum no processo de criar outros seres humanos faz algum sentido. Como se pudesse haver bônus, sem necessidade de qualquer ônus.

Pela manhã, depois que a poeira baixou, eles pediram para assistir desenho. Enquanto selecionava o programa ao lado deles no sofá, o Matias me abraça e diz: “Mãe, você é a melhor de todas. Não é verdade que você sempre cuida da gente, e quando estamos doentes (quando vomitamos, completa Beatriz) você sempre nos cuida?”. E eu, do auge do meu cansaço, ainda de pijama cheirando a vômito, cabelo gorduroso e pantufas, os abracei e disse que sim, que os cuidaria, sempre.

Por mais que nos pareça injusto que o caos se instaure quando mais precisamos de paz, onde muitas vezes vemos cansaço sem fim, eles vêem amor na forma de cuidado constante, previsível, seguro. Então ame. A recompensa está bem diante dos nossos olhos.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

Relato originalmente publicado no meu perfil do Instagram em 20 de agosto de 2019.

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