Informação fidedigna e uma boa dose de bom senso para avaliar riscos toxicológicos para o bebê, riscos para a amamentação, riscos comportamentais, e fazer escolhas conscientes sobre o consumo de álcool durante o período da amamentação.
Por que escrever um texto sobre o consumo de álcool na amamentação?
Há mais de 1 ano publiquei o texto abaixo, a respeito do consumo de álcool por lactantes (mulheres que amamentam), na minha página do Facebook. Tirei do ar recentemente porque não estava mais disposta a ficar lendo os absurdos que muitos (homens, principalmente) deixavam nos comentários.
Escrevi com base, principalmente, num texto (clique pra ler) do aclamado pediatra Carlos Gonzalez. Homem. Famoso. E levei pedrada mesmo assim.
Recentemente saiu um artigo de revisão (clique pra ler) a respeito do assunto que, mesmo confirmando a (mínima) presença de álcool no leite materno, concluiu que não há efeitos sobre o lactente (bebê), salvo em casos de uso abusivo frequente , corroborando o que Gonzalez já havia dito em seu texto.
Ontem, mais uma vez, um homem, pediatra, O CARA da amamentação, o canadense Jack Newman, postou sobre o assunto um ótimo texto (clique pra ler) confirmando mais uma vez a presença ínfima do álcool no leite materno e sua insignificância.
Neste texto, baseado nos testes de uma mãe cientista, segundo ele, o teor de álcool no leite materno fica em torno de 0,02% após ingerir um drink com cerca de 60ml de vodka (que tem 40% de álcool) + 300ml de soda. Isso é um baita de um drink! Muito mais álcool do que tem a cerveja e o vinho, por exemplo. E 0,02% é como diluir 30ml de vodka em mais de 6 litros de água.
Isso é só pra exemplificar que passa muito pouco. Mesmo com as diferenças de metabolismo de pessoa pra pessoa, é pouco. E em 2h cai drasticamente.
Sobre consumo de álcool e amamentação
Mãe.
Esse ser devoto, saaanto, que se doa por inteiro, física, psíquica, espiritual e emocionalmente. Endocrinamente. Exocrinamente! Esse ser que acaba por se esquecer e ser esquecido.
É uma cultura, essa da mãe que se doa. Que deixa de ser aquela mulher. Vira mãe. Cismam, a sociedade, o mundo, de bater nessa tecla que diz que a maternidade é absolutamente incompatível com certos aspectos da \”reencarnação passada\” da criatura mãe. Dedicação 100%, 24h/7 dias na semana. Sabemos que é. Também.
Mas mãe que amamenta pode falar de maquiagem. Pode falar de política (deve!). Pode falar palavrão.
Deveria poder frequentar bares e restaurantes, na hora em que achasse conveniente, com seus filhos pendurados no peito. Ou sem.
Mãe que amamenta pode tomar remédio, fazer tratamentos médicos e não precisa deixar de amamentar pra fazer (ou deixar de fazer e viver com dor, por exemplo).
Mãe que amamenta pode comer feijão, chocolate (exceto em casos de APLV!), tomar café com moderação. Não, não é necessariamente sua culpa a cólica do bebê. Não foi o feijão, não foi o bolo de cenoura com calda de chocolate que você estava com desejo. Fica tranquila.
E mãe que amamenta pode consumir álcool. OOOOHHHHHHHH MEO DEOS!!!
Calma, pessoal. Vamos aos fatos? Vamos:
Sobre os riscos toxicológicos para o bebê
➡️ A concentração de álcool no sangue é igual à do álcool no leite materno (razão 1:1). \”Mas meu deus, é muito!\” É? Lembre-se que o seu sangue banha seus órgãos e o seu leite… bom, é um alimento.
➡️ De acordo com a tabela reproduzida abaixo, extraída de um artigo do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, eu diria que uma mulher amamentando e consumindo álcool com um mínimo de bom senso (leia-se: sem ficar completamente bêbada) poderia ter a concentração de álcool no sangue entre 0,01 e 0,1 (com uma média provável de 0,05). Observem bem a tabela, por favor. Se o nível de álcool no sangue chega a 0,4% essa pessoa está em coma alcoólico, à beira da morte.
➡️ Agora raciocinem comigo: Vinho tem em torno de 13% de álcool. Cerveja, em torno de 6% (podendo variar). Se fôssemos incluir nessa lista de bebidas o leite materno de uma mulher em coma alcoólico ele teria 0,4%.
➡️ Segundo a legislação brasileira, uma bebida é considerada não-alcoólica quando contém menos de 0,5% de álcool. Portanto, o leite materno de uma lactante em coma alcoólico poderia ser classificado como uma bebida não-alcoólica (Decreto n° 6.871/09, Capítulo VI – Da Classificação das Bebidas).
Então, meus queridos, não, a mãe tomar uma taça de vinho ou dois chopes, ou mesmo uma capirinha com bastante gelo, não vai deixar bebê nenhum bêbado por mamar no peito. Não precisa ordenhar e jogar ralo abaixo o tão precioso leite materno não. Fica tranquila.
⚠️ Mas meu bom senso me manda contra-indicar o consumo de álcool por mães de bebês muito pequenininhos, até uns 3 meses, quando é muito leite pra pouco bebê. Mas claro, meia tacinha pra um brinde esporádico, tá liberado (Ó ele aí de novo: o bom senso).
Sobre os riscos para a amamentação
➡️ O consumo de álcool pode inibir a ocitocina, hormônio muito importante para a ejeção do leite materno na hora da mamada. Então um consumo muito frequente pode impactar negativamente na amamentação, diferente do que prega a tradição de se oferecer cerveja preta para mulheres que amamentam.
➡️ O álcool pode alterar o sabor do leite materno, podendo, em alguns casos, interferir na aceitação pelo bebê. Portanto, o consumo frequente (todos os dias, mais de uma vez ao dia) de álcool pode ser ruim para a amamentação nesse sentido também.
Sobre os riscos comportamentais
➡️ Pessoas (vejam bem: PESSOAS, não apenas mães, mas pais também. Avós, avôs, tios, tias, etc.) que fazem cama compartilhada não devem consumir quaisquer substâncias lícitas ou ilícitas que alterem seu estado de consciência ou sono. Álcool incluído.
➡️ Pessoas que estejam cuidando de bebês não devem ficar bêbadas. Né? Se a mãe tem alguém com quem deixar o bebê para dar uma saída e tomar uns bons drinks, tá tudo certo. (Aposto que tá todo mundo pensando numa avó ou babá, mas quero lembrar que esse cuidador pode ser o pai também, tá? Please. Ia fechar o parêntese, mas continuo: aí você pensa nesse pai tomando uma cerveja depois que coloca o bebê pra dormir e ninguém acha nada. Agora troca para a figura da mãe. \”Que horror! Mãe bebum desnaturada!\” NÉ?)
Conclusão de tudo isso: BOM SENSO.
Bebeu uma taça de vinho no jantar? Duas? Bebeu água junto, comeu e tal? Pode amamentar feliz o seu bebê.
Está em pleno puerpério e vai rolar um brinde de ano novo, aniversário ou qualquer outra comemoração? Pode brindar junto! Uma tacinha de espumante não vai embebedar seu bebê! Seja feliz!
IMPORTANTE:
Meu objetivo com esse texto não é encorajar as mães a saírem bebendo feito loucas por aí, pelamor, mas diminuir a culpa materna, a culpabilização e mais exclusão de mães do convívio social adulto.
(Vinho é bom pra saúde. Uma taça por dia faz bem. 7 taças numa noite não fazem bem. Destilados não fazem bem. 2 chopes num almoço não fazem mal. 10 chopes numa noite não fazem bem. Ó o bom senso)
⚠️ Gestantes não devem consumir álcool. O consumo de álcool na gestação pode causar a síndrome alcoólica fetal.
Se beber, não dirija.
[Leia também: Alimentação Materna e Cólicas no Bebê. Uma Coisa Realmente Afeta a Outra?]
Texto de Joana Adnet, mãe da Cecília e do Antonio, Nutricionista e Consultora de amamentação.
Você pode acompanhar o seu trabalho através da sua página no Facebook NutriJow e do seu perfil no Instagram @nutrijow.
Texto originalmente publicado em sua página do Facebook em 26 de julho de 2018 e gentilmente cedido pela autora para divulgação por este meio.