Ou, em outras palavras, razões de sobra que o leite materno nos dá para manter a amamentação no tempo, de forma continuada ou \”prolongada\”.
Vamos escarafunchar os componentes do leite materno (LM) e descobrir que tem umas paradas DAORA no tetê?!
Costumo dizer que se você acha que o LM é apenas alimento para o baby crescer e ganhar peso, então você ainda não entendeu nada. A partir de agora vamos mudar esse olhar sobre o aleitamento e descobrir de uma vez por todas o motivo do tetê ser muito mais que nutrição.
Então vem conhecer a primeira estrela: o EXOSSOMO
Ok, doctor, mas o que é esse exossomo aê?!
➡️ Exossomos são vesículas derivadas da membrana das células, que se desprendem e caem no meio extracelular, funcionando como mensageiros. Aaaahn?! Calma, vou traduzir: essas vesículas são tipo uns motoboys que levam material genético da mãe para a cria. Cataploft! É o iFood genético, minha gente.
➡️ E essas motocas transportam uma coisa chamada de microRNA, que pode mudar expressões da genética do bebê (já conversamos sobre essa linda, a EPIGENÉTICA*).
Estou entendendo, doc! Mas o que isso muda na vida da criança?
➡️ Opa, segura essa marimba: melhora a IMUNIDADE! Estudos vem mostrando pra gente que essa conversa genética induz tolerância à alérgenos (tolerância = não fazer alergia), organiza diversas células no nosso exército de defesa (como as células NK e T reguladoras), além de combate à células tumorais (Lasser et al, 2012). Ou seja, o estímulo imunológico vai muito além de oferecer os anticorpos prontos (que já é uma coisa maravigold proporcionada pelo LM, diga-se de passági).
➡️ O potencial de desenvolvimento que o leite humano pode proporcionar é quase inacreditável – parece saído de uma obra de ficção científica. E ainda estamos tentando entender essas interações tão complexas. Se tem coisa mais linda que isso, desconheço.
Agora, se vocês ficaram impactad@s com a maravilhosidade dos exossomos no LM…
Segurem a continuação dessa marimba com a pleníssima LACTOFERRINA
➡️ Esse “ferrina” no nome é justamente porque ela agarra o FERRO da dieta com força e só solta pro bebê. Isso FACILITA a absorção do ferro e evita que bactérias que precisam deste mineral para crescer não tenham acesso a ele (efeito bacteriostático). Com essa info, conta aqui pra doctor, nas crianças que já iniciaram a introdução alimentar (IA), tem problema tetê antes/durante/depois da refeição?! NÃÃÃO.
➡️ A lactoferrina no LM é matadora️ de: Strepto mutans (que causa ukêêêê?! CÁRIE), Strepto pneumoniae, E. Coli, Vibrio cholerae, Pseudomonas e Candida (Arnold et al)… só pra vocês entenderem que ela é rainha moduladora de microbioma;
➡️ Nossa musa também estimula a produção de citocinas (que fazem a comunicação das células de defesa – o WhatsApp imunológico), aumenta a imunidade das mucosas, melhora a atividade das células NK️ (nossa defesa zumbi que mata tudo pela frente) e dos macrófagos (nossa defesa Pac-Man);
➡️ Evidências moleculares indicam que a lactoferrina poder agir como fator de transcrição de DNA de células intestinais, afetando a síntese de outras proteínas. Uau!
Olha… Lactoferrina podia ser tranquilo o nome de uma super heroína, né nom?!️ E LM a Liga da Justiça!
️No entanto, vez por outra encontramos umas abobrices circulando nas redes sociais sobre imunidade do leite materno perdendo “efeito” com o tempo (tsc tsc). Sabe de nada, inocente!
Vem comigo abrir essa janela de evidências com as IMUNOGLOBULINAS
➡️ A principal estrela do leite materno é a Imunoglobulina A secretória (sIgA), correspondendo a 90% das Ig totais. E ela é tão rainha que resiste à digestão e chega pleníssima no intestino para cumprir seu papel de defesa contra os bicho tudo:
- Protege contra bactérias (E. coli, Salmonella, Clostridium dificile, S. Pneumoniae, H. Influenzae)
- Protege contra vírus (Rotavírus, VSR, Influenza, CMV)
- Protege até contra Giardia e Candida spA sIgA além de impedir que isso tudo se torne inquilino indesejável no microbioma da criança; ainda neutraliza toxinas produzidas por patógenos e previne invasões de camadas mais profundas do intestino.
➡️ Agora PRE-PA-RA pro lacre: no decorrer da lactação, a quantidade de sIgA do leite materno vai diminuindo (ela bomba no colostro – por isso chamamos de “primeira vacina do baby”), eeeee vai sendo substituída por outra imunoglobulina, a IgG. Então, aquele leite que tinha somente função matadora de patógenos nos recém-nascidos, passa a PROMOVER O SISTEMA IMUNE INDEPENDENTE nas crias maiores (Gao et al, 2012). Isto mesmo que você leu: vai ajudando o sistema imunológico da criança a funcionar sozinho.
➡️ Vantagem que dura ENQUANTO A CRIANÇA MAMAR. Tem prazo de validade não! E se pensarmos que estudos antropológicos apontam para o desmame natural em humanos acontecendo ali pelos 3-6 anos, época em que o sistema imunológico da criança fica parecido com o do adulto… Páh! Todo o sentido.
Ainda tem mais? Vamos conhecer outra parada daora do tetê: a LISOZIMA
Vamos entender porque ela é BFF de outra estrela do leite materno que vocês já conhecem, e porque ela é uma maravilhosidade bombástica. Ficou curios@?! Então vem!
E o que é uma lisozima, doctor?!
➡️ Bom, enzimas são substâncias orgânicas que permitem que algumas reações aconteçam (são os catalisadores); no caso da nossa musa de hoje, ela é uma enzima ativa, presente em altas doses no LM – cerca de 3000 vezes mais que no leite de vaca.
➡️ Cata a habilidade dessa linda: ela se liga na parede celular da bactéria, funcionando como um agente antibacteriano. Ou seja, um antibiótico natural para proteger a cria em cada mamada!
E lembram da LACTOFERRINA? Yasssss, doc!
➡️ Ela e a lisozima formam uma dupla dinâmica no combate às bactérias gram negativas – essas danadas andam dentro de uma cápsula que impede que elas sejam engolidas por nossas células Pac-Man do sistema imunológico. Mas conseguem enganar LACTO-LISO (shippei nossas musas)?! Nananinanão! A lactoferrina reconhece esse tipo de bactéria, faz buracos na cápsula de proteção por onde entra a lisozima, que explode a parada por dentro!!!
Aff, lacto-liso, suas perfeitas!
Para fechar com chave de ouro este post, com vocês a CASEÍNA.
➡️ Nossa rainha Caseína é uma proteína fabricada a partir de aminoácidos do tecido mamário. E na corte da caseína, temos algumas subunidades. Sabia que elas são as responsáveis pela cor branquinha do leite? Não, doc! Aham.
Agora vem conhecer as duas mais prevalentes no leite humano:
➡️ β-caseína. Pensa em uma proteína maravigold: faz imunoestimulação e modulação, estimula síntese de DNA, pode ter papel no sono-vigília (seus peptídeos tem afinidade por receptores opiáceos) e… aumenta a absorção de cálcio pelo nosso corpo. Isso explica o porquê de aproveitarmos melhor o cálcio do tetê do que o cálcio da fórmula artificial (S. Rudloff, B. Lönnerdal). #teambeta
➡️ κ-caseína. Musa do disfarce, fica alí no intestino fingindo que é carboidrato, enganando as bactéria tudo, que quando acham que vão entrar no condomínio e morar no microbioma… pah! Kapa leva embora, danadinha. Impede adesão bacteriana e, além disso, também tem efeito na proteção do estômago contra o H. pylori. Uau.
Leite de vaca x Leite materno
Quando comparamos o leite humano com o leite da vaca, as proporções caseína/proteínas do soro são bem diferentes, e a subunidade predominante é a alfa – e essas diferenças tornam a digestibilidade mais difícil.
Então, mores: tetê é fonte maravigold de cálcio. Em qualquer idade! Se a cria maiorzinha está em aleitamento: não “precisa” de outro leite para suprir essa necessidade. E conta isso pra vó.
⚠️ E pros picaretólogos do desmame: NÃO DESAMAMENTE AS AMAMENTANTES. Essa conta não é sua! ⚠️
[Para se aprofundar no tema assista a nossa live ou ouça nosso podcast sobre Amamentação e Desenvolvimento Infantil.]
Texto de Pérola Zupardo, pediatra daora, IBCLC e pós-graduada em aleitamento materno.
*Você pode acompanhar o seu trabalho no perfil do Instagram @draperola_pediatra
Série de posts originalmente publicados na sua conta do Instagram e gentilmente cedidos pela autora para serem reunidos e divulgados neste espaço.