Fases da maternidade: Desfrutando do agora

Fases da maternidade: desfrutando do agora

A maternidade não se torna mais fácil com o tempo, ela continua difícil mas de um jeito diferente. Gosto dos conceitos envolvidos nesta frase. Porque provoca um choque de realidade que ajuda a redefinir a maternidade, constatando que, sim, existe o lado árduo do processo. E ao mesmo tempo pode ter um efeito diluidor da ansiedade materna. Já que vamos pensar duas vezes antes de querer pular para a próxima fase, buscando um alívio rápido para os perrengues do presente. Pois, nessa pressa corremos o risco de deixar de curtir as recompensas que o momento proporciona. Sim, todas as fases trazem consigo um ônus e um bônus.

Minha meta desde que os gêmeos nasceram tem sido viver um dia de cada vez. Tem funcionado até agora. Não me livrou do cansaço extremo em alguns momentos e de surtar diante da alta demanda. Ou até de querer desistir de tudo em mais de uma ocasião. Mas então, eu me deito à noite, mesmo que seja para não dormir, e me prometo aguentar só mais um dia. E assim estamos chegando aos quase três anos de uma maternidade múltipla (quase 6 de maternidade no total). Uma maternidade intensa, em tempo integral, sem rede de apoio constante, mas repleta de conquistas e prêmios.

Encontrando o lado bom nas fases difíceis

A noite mal dormida dá lugar a uma manhã ensolarada. E um vai e vem de pequenos passos cheios de vida e saúde enquanto preparo o café. O chilique passa e ganho um sorriso e um “obrigada”. A disputa entre irmãos é substituída por uma brincadeira em que os três participam, sentados em cima do único móvel da sala que por um momento se transforma em um navio pirata.

Da pequena que ainda luta com a fala e o diálogo ouço um “mamãe, me ajuda a descer daqui porque não tenho asas”. E me derreto com a sua lógica infantil. Por um bolo simples feito às pressas escuto um “Que gostoso mamãe, posso ajudar? É o meu favorito. Eu te amo.” e ainda recebo um beijo e um abraço. A pilha de louças do almoço fica para depois das brincadeiras com água no quintal.

A soneca boicotada vira bagunça no escurinho do quarto. Terminamos um dia longo e quente brincando na pracinha da cidade, vendo a dança das andorinhas que vão e vem em bando pelo céu crepuscular. Voltamos caminhando devagar curtindo o fim da tarde, cumprimentando pessoas pela rua e fazendo planos sobre exploração submarina.

Um exercício que deveria repetir com maior frequência

Infelizmente, minha rotina não me permite fazer esse exercício mental com a frequência que seria necessária. Mas hoje fico feliz por tê-lo feito. Porque embora minha rotina seja puxada e desgastante sei que sou uma pessoa privilegiada pela família que tenho. Sei que estamos chegando ao fim de uma etapa muito cansativa do ponto de vista físico, e que outros tipos de desafios virão.

No entanto, não quero perder de vista o lado bom. Não quero deixar jamais de ver a vida e me encantar com as coisas pelo olhar deles, de tanta simplicidade e inocência. Porque a verdade é que mesmo cansada e um tanto sobrecarregada eu tenho razão de sobra para agradecer hoje e sempre.


Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs

[Na foto, o Nando com 5 anos e 5 meses  e os gêmeos com 1 ano e 4 meses. Numa manhã de primavera no quintal, entre o salto dos 15 e dos 18 meses. Fases bastante desafiadoras no desenvolvimento deles e para mim como mãe. Na data da publicação deste texto no Blog, eles estão com 7 anos e 4 meses e 4 anos e 3 meses, respectivamente. Muitos dos perrengues da época em que escrevi este texto ficaram para trás e novos desafios surgem, mas continuo com a convicção de que cada etapa, mesmo as mais difíceis, têm coisas maravilhosas para serem curtidas e guardadas no potinho das memórias.]

Texto originalmente publicado nas minhas contas de Facebook e Instagram em 2 de março de 2018.

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