Vamos falar sobre libido e sexo no pós-parto? A seguir, compartilho uma sequência de perguntas e respostas, elaborada pela médica ginecologista e obstetra Anna Beatriz Herief. Nela, ela esclarece as principais dúvidas das suas pacientes sobre o tema.

Quanto tempo deve durar o resguardo no pós-parto?

Não há evidência que demonstre malefício, dano ou risco de relação sexual no pós-parto, seja ele normal ou cesariana. O tão conhecido “resguardo” ou “quarentena”, que é o período de 40 dias, comumente recomendado para que as mulheres não façam sexo, é apenas uma convenção sem base científica. E não é a única invenção sem sentido. Episiotomia, parir em litotomia, dieta zero para o parto, lavagem intestinal são algumas outras que enchem o parto de mitos e medicalizam demais o que deveria ser natural.

A única restrição (relativa) é para o pós-parto normal, e o que determina a aptidão para a retomada da vida sexual é a cicatrização do períneo. Se a mulher sofreu (desnecessariamente) uma episiotomia ou se teve laceração perineal (suturada ou não) e ainda não houve recuperação total, é possível que ela sinta dor ou que cause dano ao períneo ainda não cicatrizado. É recomendável que o retorno à atividade sexual seja liberado pelo obstetra (para que se verifique o períneo), mas que seja principalmente uma decisão da MULHER. Que aconteça apenas quando ELA tiver vontade. Se ela tentar ter relação e sentir dor, tudo bem esperar mais um pouco.

É normal que a mulher fique sem libido, ainda que não esteja amamentando?

A queda da libido durante o período de lactação, mais marcadamente em aleitamento exclusivo, é hormonal e fisiológica. O corpo entende que acabou de gestar e parir um ser dependente e direciona toda a energia para isso. O organismo “adia” nova gestação suprimindo ciclos menstruais, gerando atrofia/hipotrofia do sistema genitourinário. O que acontece, na prática? Queda da libido. Com a volta dos ciclos menstruais (e para mulheres que não amamentam), é possível que o desejo sexual retorne, mas isso não é regra. Da mesma maneira que há mulheres que ainda não voltaram a ciclar, mas sentem vontade de transar. No geral, para além da questão hormonal do puerpério e amamentação, é bem difícil uma mãe com privação de sono e os desafios do puerpério ter desejo sexual aflorado, o que deve ser respeitado.

Em quanto tempo depois do nascimento a mulher volta a ter libido?

O retorno da libido varia muito e é muito individual. Se nas mulheres em geral, o desejo é uma construção multifatorial, para a puérpera é ainda mais – ou seja, não é uma questão APENAS hormonal. Normalmente, estamos falando de uma mulher cansada, com um novo corpo, novas demandas. A maioria delas NÃO TEM o apoio necessário para tudo isso, seja do companheiro ou de rede extensa, e está constantemente sobrecarregada com as (mil) funções da maternidade. Sendo assim, pode demorar poucos dias ou até anos, depende de todo o contexto dessa mulher. O que vemos na prática é uma redução da libido mais acentuada em mulheres que amamentam exclusivamente em livre demanda, mas, como disse antes, depende de muitos outros fatores.

Como lidar com a pressão do companheiro para retomar a atividade sexual?

O ideal, na verdade, seria que o companheiro tentasse compreender o novo momento da mulher e que entendesse que agora há uma família formada. É fundamental que ele exercite a compreensão, que entenda que intimidade é mais do que sexo com penetração em si. Uma massagem nos pés, um filme juntos, um jantar surpresa, ficar com o bebê para a mãe dormir ou tomar um banho demorado e se recuperar de noites mal dormidas… Tudo isso pode trazer o tesão de volta à relação.

O que fazer para amenizar a sensação de que nada mais será como antes?

Eu acredito que essa sensação não deve ser amenizada, ela deve ser aceita: é real que nunca mais será como antes – e tudo bem. A vida não será mais a mesma depois da chegada do bebê e é preciso exercitar o olhar para ver além das dificuldades desse primeiro momento. É difícil e é necessário apoio, seja do companheiro, da família ou mesmo apoio em grupos virtuais. Só com esse acolhimento é possível perceber a alegria e a beleza de acompanhar o crescimento do filho e de tudo que envolve esse momento. Aceitar que é um período difícil, mas que dele nasce uma nova mulher, ainda mais maravilhosa do que antes. 

[Leia mais em: Como Fica o Sexo Depois da Maternidade? e O Puerpério Não Dura 40 Dias.]

[Para se aprofundar no tema assista a nossa live ou ouça o nosso podcast sobre Sexo no Pós-parto.]


Por Anna Beatriz Herief, ginecologista e obstetra com foco na saúde da mulher e humanização do nascimento.

Você pode acompanhar o seu trabalho no perfil do Instagram @biaherief.

Série de posts originalmente publicados na sua conta do Instagram e gentilmente cedidos pela autora para serem reunidos e divulgados neste espaço.