Nossa sociedade vê como negativa a associação entre peito e sono infantil. Mamar para dormir é considerado quase um crime para alguns. Na verdade, esta associação é fisiológica, parte de quem somos como humanos e mamíferos.
Mamar para dormir na ciência
Sabemos, segundo as evidências disponíveis, que a sucção no peito é relaxante. Que o leite materno possui componentes indutores do sono. E que o contato próximo com o corpo da mãe é fator de regulação de inúmeros processos no bebê. Como, por exemplo, da respiração, dos batimentos cardíacos e da temperatura corporal. Tudo isso facilita e prolonga o descanso do bebê, que é preservado de sobressaltos decorrentes da sua ineficiente capacidade de auto-regulação.
Mamar para dormir ganhou até um termo próprio dentro do meio científico: Breastsleeping. Graças ao Dr. James McKenna que é um dos maiores estudiosos e referência internacional sobre o tema. A amamentação e o sono acompanhado (quarto ou cama compartilhada de forma segura) são fatores de proteção contra a síndrome de morte súbita do lactente. Mesmo depois do período considerado crítico para este evento (+1ano), ela continua sendo beneficiosa para a mãe e o bebê sob vários aspectos.
Nossa experiência de peito + sono
Para mim, como mãe de gêmeos, mamar para dormir era a forma super eficiente de fazer os dois adormecerem simultaneamente. Também de diminuir o tempo dos despertares noturnos e poder descansar minimamente mesmo tendo que atender dois bebês mais uma criança pequena. Eles dormiram mamando enquanto precisaram. Depois avançaram para o mamar para dormir. Até que começaram a dormir sem precisar mamar, só com a minha presença. Agora até adormecem sozinhos. Tanto o desmame como o sono são processos madurativos. E eu pude ver de perto esta evolução natural neles, cada um no seu próprio ritmo.
O estigma social e profissional sobre a amamentação como precursora do sono pesa bastante. Muitas vezes é a desculpa perfeita para que quem divide (ou pelo menos deveria dividir) conosco a responsabilidade pelo cuidado infantil nos negue ajuda. Muito do nosso cansaço vem daí, dessa luta constante e da falta de apoio. De uma culpa que nos é lançada por “mal acostumar” o bebê, por “complicar” as coisas. Adivinhem quem perde com isso?
Texto de Gabrielle Gimenez @gabicbs
Texto publicado originalmente no meu perfil do Instagram em 8 de fevereiro de 2020.