Afinal, para que serve uma doula?

Não vou fazer um discurso técnico cheio de definições. Vou simplesmente narrar minha vivência com uma doula.

Meu primeiro parto

Minha primeira experiência com o parto não foi das melhores. Trabalho de parto punk. Nada de pródomos ou fase latente. Já começou “pra torar”. Pirei! Nem as três doses de peridural que tomei ao longo das seis horas de trabalho de parto no hospital ajudaram. Parto traumático cheio de intervenções. Me dava calafrios depois só de lembrar. “Nunca mais quero passar por isso”, pensei.

Alguns anos depois assisti O Renascimento do Parto – O Filme. Percebi o que tinha dado errado antes. Não era que eu fosse fraca ou covarde. Não tinha sido minha culpa o expulsivo complicadíssimo. O modelo de assistência é que foi ruim. Hospital vanguardista, equipamento de ponta, referência no exterior, patrimônio nacional. Porém, totalmente obsoleto no que diz respeito às práticas de assistência ao parto.

Passei todo o trabalho de parto deitada, conectada ao soro e à máquina de monitoragem fetal. A peridural não aliviou a dor. E era um tal de empurrar e fazer força que me esgotaram e me fizeram pensar que ia morrer ou matar meu filho. Bebê coroou. Cruzei caminhando para o centro cirúrgico. Mais dor, mais “faz força”, kristeller, episiotomia, bebê fora, “ajuda” para dequitar a placenta. Tudo errado!

Minha segunda oportunidade

Quando descobri o universo da humanização do parto e das práticas obstétricas baseadas em evidências, disse ao meu marido: É isso o que eu quero para mim da próxima vez. Ele subiu ao barco comigo e abraçou a causa. A maior aventura das nossas vidas começou.

Entre o modelo de assistência ideal e a realidade de onde vivíamos naquele momento havia uma diferença abismal. Estuda daqui, investiga dali e percebi que a única chance que teria de alcançar o desejado seria um parto domiciliar.

Quando essa opção me foi negada pelas equipes em atividade na cidade em virtude da minha gravidez gemelar, desanimei. Teria que me conformar com o modelo hospitalar e as chances altíssimas de terminar numa cesárea.

Era um risco que eu teria que correr. Mas dessa vez eu não passaria pelo processo sozinha. Escolhi uma doula para me acompanhar na jornada. Ela aceitou o desafio. Apesar de já ter bastante experiência como doula, era a primeira gravidez gemelar que ela acompanhava. Para mim tudo era novidade também.

Foram mais que exercícios de respiração, massagens e alongamento numa bola de pilates. Aprendi sobre a força da mulher e sua capacidade de superação. E sobre a perfeição divina na fisiologia da gestação e do parto. Também a encarar a dor, não como sofrimento, mas como parte de um processo cujo resultado é maravilhoso. A estar tão confiante em mim mesma a ponto de não me desesperar quando tudo saiu fora do programado. Aprendi a estar preparada para ser a protagonista do momento mais sublime da minha existência.

Um pouco da nossa história em imagens

A diferença de ter uma doula

Foi a minha doula quem deu as primeiras instruções via celular quando as contrações começaram. Quem manteve a calma diante do inesperado e pronunciou as palavras que ninguém ousou emitir: “Vai nascer agora!” E ajudou meu esposo a receber a Beatriz, e me ajudou no trajeto do chuveiro à cama improvisada no chão do quarto.

Quem segurou minha mão na segunda etapa e preparou compressas quentes para aliviar a dor enquanto esperávamos o Matias. Repetiu em voz audível o que eu apenas conseguia pronunciar e fez valer minhas vontades. Vibrou e celebrou comigo a minha vitória sobre o sistema. Vitória que foi dela também.

E me acompanhou nas primeiras semanas pós-parto e com suas mãos mágicas aliviou as tensões musculares da maratona do puerpério.

Ter uma doula por perto é uma das poucas coisas na vida que não tem contras, só prós.

[Para ler nosso relato de parto natural gemelar clique aqui.]


Relato de Gabrielle Gimenez @gabicbs

Relato escrito e publicado originalmente na minha conta do Facebook em 16 de novembro de 2015.

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